terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Dia Internacional das pessoas com deficiência

3 DE DEZEMBRO
DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Hoje proponho que pensem! 
Pensem no que é uma pessoa normal... 
O que é ser normal?
O que ser portador de deficiência?

Este ano na minha diocese (diocese do Algarve) a campanha do advento é toda direccionada para abrir os corações, das crianças, e das comunidades em geral, à pessoa com deficiência. Mas talvez sejam as crianças as que mais nos ensinam sobre o que é abrir o coração ao outro... Para eles, pelo menos a maioria, ser diferente é sinónimo de receber mais, de precisar mais, de ser mais protegido, mais amado, eles felizmente vêm com os olhos de Deus! Também todos nós um dia fomos crianças, sentimos o mesmo que eles sentem, mas hoje achamos que temos mais maturidade, que temos uma noção maior da realidade... Será? A maioria dos adultos olha para uma criança com Síndrome de Down e pensa que futuro terá aquela criança? Quando olha para um cego, pensa como é que um cego consegue viver nos dias de hoje? Quando vê uma pessoa numa cadeira de rodas, acha que esta nunca vai conseguir fazer muito, que não vai casar e ter família, etc... Quando ouve um surdo a tentar falar, tapa os ouvidos ou ri, porque o barulho a incomoda... Quando vê uma mãe com um filho autista, tem pena da mãe e do filho e dos irmãos! Quando olhamos para alguém com uma paralisia cerebral achamos que é um infeliz e que se calhar mais valia não ter nascido!
 Eu podia continuar aqui a descrever dezenas de pensamentos e sensações que todos, pelo menos uma vez, tivemos ao ver alguém "diferente" de nós. Mas não o vou fazer... Vou antes contar-vos como muitas dessas famílias não se imaginam de outra forma, como essas pessoas se sentem felizes, como vivem, como conquistam o seu lugar na sociedade...

Eu cresci numa familia afortunada, tive um tio (quase irmão) com cerca de 10 anos de diferença de mim, lindo, com uns olhos de um azul profundo e um lindo e forte cabelo moreno, ficou órfão cedo, mas tinha umas irmãs e uns sobrinhos que o amavam muito, ria à gargalha, sentia-se a felicidade no seu riso, chorava e conseguia-se sentir a dor e a tristeza no seu choro... Era assim a única forma que ele tinha de comunicar! Tinha Paralisia Cerebral profunda... mas era amado por todos, tratado como um rei, nunca nenhum de nós (sobrinhos) se queixou porque ele tinha mais atenção que nós, porque antes de dormirmos não tínhamos direito a história porque ele precisava de mais atenção do que nós, nunca nos queixamos porque não podíamos ir de férias onde e quando queríamos, porque ele não podia ir e alguém tinha de tomar conta dele... A nossa vida era com ele e só desta forma ela fazia sentido, o resto era indiferente, ele era o mais importante, nós sabíamos quando estava feliz e quando estava triste, todos nós amávamos aquele menino mais que tudo! Hoje não seriamos quem somos se ele não tivesse feito parte das nossas vidas... E podem perguntar "Onde estava Deus quando ele nasceu?" E eu respondo "Deus estava no seu riso e no seu choro, no azul profundo dos seus olhos e no amor que nós lhe demos sempre!"

Na minha comunidade, existe um menino com Síndrome de Down, é o paroquiano mais respeitado, mais assíduo, mais cumpridor dos seus deveres como católico. Não existe criança em São José que não o conheça pelo seu excelente exemplo. No ano passado quando as crianças do 4º ano fizeram a primeira comunhão o Senhor Padre durante a homilia chamou-o e com o seu exemplo ensinou que devemos comungar sempre com a alegria com que aquele menino comunga, que devemos ir à missa com a felicidade com que ele vai. E podem perguntar "Onde estava Deus quando ele nasceu?" E eu respondo "Deus está nele, está no seu exemplo como verdadeiro católico, está na luta da mãe dele para que ele tenha tudo o que precisa, está em todos os que o acolhem, respeitam e amam."

No outro dia uma amiga contava-me que agora tinha um casal de amigos cegos e que a primeira vez que tinha estado com eles nem tinha reparado que eles não viam, eu perguntei "mas como não reparaste?" e ela "olha não reparei mesmo, eles agiam de uma forma tão natural e tão à vontade". Para este casal ser cego não é uma limitação, conseguem sozinhos fazer quase tudo. Agora pensemos, nós (os ditos normais) conseguimos fazer tudo sozinhos??? Às vezes nem à casa de banho conseguimos ir sozinhos. Quem é nunca precisou da ajuda de alguém para arranjar qualquer coisa, para dar uma opinião, para fazer uma comida diferente, para ir ao médico quando se está verdadeiramente doente.
E podem perguntar "Onde estava Deus quando eles nasceram?" E eu respondo "Deus está neles e está nos olhos de quem vê por eles."

Pensando bem, as crianças continuam a ter mais razão que nós, porque é que complicamos tudo? Precisamos realmente de ver, ouvir, falar para sermos felizes?
Precisamos de ter toda a consciência e inteligência para ser cristãos e para ser cidadãos do mundo?
Precisamos de todas as nossas capacidades físicas para sermos campeões, para vivermos verdadeiramente?

É caso para dizer com toda a entoação "ENNNNTÃÃÃÃÃOOOOOOO???????"

Nós como cristãos temos a obrigação de acolher a todos, Jesus fazia-o, acolhia o cego, o paralítico, o doente, o louco... Se Jesus é o nosso exemplo, hajamos como ele! 

Sejamos exemplo para todos...

"Deus crio-nos à sua imagem e semelhança
Todos temos algo de divino em nós mesmo, todos podemos continuar a criação e fazer algo maravilhoso pelo mundo, sejamos cegos, mudos, coxos, mais inteligentes, menos inteligentes, com 9 dedos ou com uma perna só! 
Por isto, todos merecemos respeito, por isto, todos temos a mesma dignidade e o mesmo direito à vida.






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